Ontem a internet só falava do lançamento do teaser do novo filme do Superman, que chega em julho de 2025. Até então só tínhamos visto fotos de bastidores que mostravam o ator no icônico uniforme, mas não tinham qualidade de pós produção. O projeto vem chamando a atenção desde o início, não apenas por ser mais uma superprodução com um famoso heroi dos quadrinhos no centro. Mas porque ele é visto como o pontapé inicial para a nova fase da DCU (divisão da Warner que cuida das adaptações cinematográficas da DC Comics), que vinha sendo conduzida de forma um tanto caótica sob a visão de Zack Snyder (diretor de Homem de Aço e Batman v Superman, entre outros) e agora passa para a batuta criativa de James Gunn, vindo de uma super(!) bem sucedida passagem pela Marvel com sua trilogia dos Guardiões da Galáxia.
Um teaser trailer não tem a pretensão de apresentar pontos da trama. Ele existe para mostrar o tom geral da obra. E isso este Superman faz. Mostra um Superman mais colorido, mais vibrante, muitas cenas de ação, elenco grande, talvez um pouco mais vulnerável e com certeza com mais coração. E no centro do trailer, um detalhe nada fácil de passar despercebido: Krypto, o Supercão, esquecido nos cinemas há tanto tempo, rouba a cena com a facilidade de quem enterra um osso no quintal.
Os canais especializados (e pra quem não curte quadrinhos, aviso: existem MUITOS) logo se dividiram. Alguns respiraram aliviados e foram as lágrimas ao perceber que o personagem que é a própria definição de esperança voltou à cena. Eu entre eles. A outra parte detestou cada frame, sentindo falta da mão de chumbo, chuva, lágrimas e câmeras lentas que marcou a era Snyder. O tom mais alegre do teaser era tudo que eles não queriam.
Confesso que é interessante ver marmanjos barbudos usando todos os subterfúgios semânticos do dicionário para não deixar transparecer o mais óbvio: que eles preferem Henry Cavill porque acham que ele é mais bonito e musculoso que David Corenswet.
Snyder tem méritos na sua visão. Que eu acho um pouco barroca demais pro meu gosto. Porém, há que se reconhecer, é uma visão coesa. O que me incomoda é perceber que internet fez com esse filão dos quadrinhos o que vem fazendo com tudo a sua volta. Os Snyderfãs não conseguem aceitar outra visão. Somente a deles é aceitável. Todas as outras são fracas.
Isso, pra começar, é completamente contra a própria concepção dos quadrinhos. Cada novo time criativo que assume um título traz características próprias para a obra. Um dos grandes baratos é ver como será o personagem nas mãos daquele autor ou artista. O Batman de Frank Miller não tem nada a ver com o do Bill Finger. O Superman de Curt Swan pouco se parece com o de John Byrne. Qual é o definitivo? Nenhum! Essa a beleza.
Mas voltando pro nosso universo, onde não temos seres voadores usando capas vermelhas, me parece que estamos viciados em polarizar tudo, em problematizar, em defender territórios que na maioria das vezes, nem precisam existir. Ninguém precisa demonizar todas as marcas para escolher uma. Não precisamos dividir o mundo em McDolnalders e BKZistas. Há espaço (e estômago) para gostar dos dois.
O que preocupa é ver o antagonismo como tendência. Porque sim, viraliza, e gera divisas. Geralmente só para as Big Techs, mas por um tempo, pode sim, causar algum buzz. Mas quando uma marca cresce alienando metade de um mercado, qualquer deslize pode significar perder o pedaço da pizza que parecia garantido.
Espero que a tendência em 2025 seja ter paz pra ver a Marvel e a DC sem precisar de montar barricadas na porta do cinema. Eu, com certeza, já estou com meu lugar garantido nas duas filas.
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