Zuck dá o pontapé inicial na Era Trump. Cuidado com as canelas.

January 21, 2025

Mark Zuckerberg foi às redes nesta terça anunciar que a Meta vai abandonar qualquer tipo de checagem de fatos, optando por um método de Notas da Comunidade, seguindo o exemplo do X de Elon Musk (com o qual, até anteontem, ele estava querendo sair da porrada- literalmente). Os checadores de conteúdo contratados pela Meta eram historicamente problemáticos, inclusive com casos reportados de funcionários sofrendo de depressão e stress, tamanha seria a carga de trabalho, e a natureza das checagens.

Bom, a julgar pelo anúncio de Zuck, essa época chegou ao fim. Segundo ele, essa checagem vinha interferindo na liberdade de expressão dos usuários, e ele quer mais “informação” fluindo de maneira não tutelada por suas redes (mas tente postar uma pintura renascentista, e o algoritmo vai barrar os mamilos da Vênus de Botticelli).

Na verdade, sinto informar aos entusiastas, é balela.

As redes Meta vem apresentando números e resultados cada vez piores. Isso não tem a ver com o bloqueio ou não de conteúdos nas redes (não diretamente, pelo menos). Conheço dezenas de pessoas que pararam de usar o Facebook ou Instagram nos últimos anos, e nenhuma delas foi por falta de liberdade de expressão. As pessoas vêm abandonando redes sociais abertas justamente por terem sofrido com algum mal entendido, ou tido algum dissabor no passado recente, ou simplesmente porque o ambiente ficou tóxico.

Zuckerberg parece estar antecipando a tônica do vindouro Governo Trump. Em sua fala, cita as “dificuldades” impostas por governos na Europa e manda um recado para o Brasil ao dizer que Governos Latino Americanos têm legislações que podem retirar conteúdo muito facilmente. Chega a dizer, em um mega ato falho de falta de modéstia, que a Constituição Americana deve ser seguida como o padrão para todos os mercados do mundo.

Durante o primeiro Governo Trump, as Big Techs tiveram um verdadeiro boom de engajamento, com inacreditáveis batalhas campais entre grupos rivais acontecendo em suas redes. A sociedade perdeu muito com essas brigas, mas para os donos dessas empresas, foi ótimo. Talvez Mark já esteja esfregando os bigodes na esperança da volta da treta em escala planetária, e está se antecipando, e para tanto, até abraçar Musk é válido.

Outro possível motivo para esse retorno a estágios mais bélicos das plataformas é a falta de uma novidade que realmente agregue valor para o usuário. Nos últimos tempos a Meta tentou emplacar o Threads (que teve um fôlego curto e não se transformou em algo relevante de verdade), o Metaverso (que nunca saiu realmente dos óculos de Mark), e a inserção de sua IA em WhatsApp e em perfis de Instagram (na minha bolha teve uma explosão de uma tarde. Na manhã seguinte ninguém falava mais a respeito).

Eu realmente só não sei se isso tem como funcionar. Eu fui um dos milhões que praticamente deixaram de usar as redes (no X, eu realmente fechei a conta), e a promessa de mais treta e menos moderação não apela em nada para um possível retorno. Bem ao contrário.

Para as empresas que vêm diminuindo o investimento nessas mídias, tampouco parece alvissareiro. Os anunciantes que o X perdeu o fizeram justamente por não quererem correr o risco de terem seus anúncios floodados por gente ameaçando seus executivos de morte, ou se depararem com cópias não autorizadas de seus conteúdos dispersando discurso de ódio. Talvez a Meta, a exemplo de Elon Musk, tenha escolhido um recorte do público, e pode abraçar os treteiros, conspiracionistas e negadores científicos, que sempre gostam das liberdades irrestritas e não moderadas.

Talvez eu esteja vendo sob um prisma próprio, e se o movimento causar um sucesso enorme, me retrato. Mas parece uma operação de enxugamento de gelo digital. As marcas e pessoas estão se movendo para modelos mais descentralizados, mais nichados e sim, mais seguros e moderados. Não o reverso.

Mas esse é só um dos primeiros movimentos dessa nova era. Que eu pretendo acompanhar de forma segura, munido de muita calma e clareza. Apreciando com moderação.

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