Uma IA pode viabilizar muita coisa. Mas gerar valor é outra dimensão

April 11, 2025

Em 2023 Tom Cruise resolveu quebrar a banca e tentar uma façanha jamais tentada por outro astro da estatura dele, e pular de um penhasco montado em uma moto, para logo após abrir um paraquedas e pousar em segurança lá embaixo da montanha.

A manobra era arriscada, custou milhões de dólares, e moveu toda campanha de marketing do filme. O resultado é duplamente empolgante. Primeiro por ser uma cena chave do filme, segundo por ter sido realizada pelo próprio Cruise.

Sentado aqui no meu computador, usando 5 minutos e um prompt mais ou menos, pedi pro Google Veo 2 criar 5 segundos de algo parecido. E olha, se eu quisesse investir mais algumas horas de aprimoramento na empreitada, criando novos takes, novos movimentos de câmera, eu talvez tivesse conseguido.

Gerei algo que, dentro do contexto certo, poderia ser usado. Mas aí vem o fato: valor mesmo, não tem nenhum.

Alguém pode dizer: agora, um sujeito de dentro do seu quarto pode gerar um filme de ação de alto impacto de dentro do seu quarto, com um pentelhésimo do orçamento de um Missão Impossível.

Bom… poder pode. Mas o diferencial não virá de nenhuma AI. Ainda duvido muito que alguém saia de casa e pague um ingresso para assistir a personagens virtuais sendo postos em situações de perigo. Inclusive por que perigo não há.

A autenticidade tem um papel chave em nossos cérebros. Mesmo que uma cena seja virtualmente igual a outra, o fato de sabermos que alguém (ainda que seja um dublê) realmente perpetrou aquela insanidade nos faz colocar um peso que nela que não é facilmente replicado.

Um filme em IA pode até gerar interesse, mas ele vai ter que ser elevado por outros fatores. Um roteiro incrível (escrito por um humano) pode ser algo que sobreponha.

Eu hoje posso gerar uma cena complexa do Steven Spielberg me parando no meio da rua para me dar seu autógrafo, mas todos sabemos que qualquer guardanapo vagabundo com o autógrafo real dele terá mais valor que esse filminho. Ainda que seja perfeito em todos os detalhes.

Mesmo nos dias atuais, quando as aplicações em IA ainda estão nos causando espantos constantes, se você quer agregar real valor, digamos, em uma capa de livro, o caminho é contratar um ilustrador. Porque, por mais linda que sua capa seja, quando descobrirem que foi gerada pelo Midjourney, boa parte da sensação de maravilhamento, aquela coisa indescritível que sentimos quando olhamos para uma tela gigante em um museu ao perceber que tudo aquilo saiu da cabeça e das mãos de um ser humano, some imediatamente.

Eu não vejo problemas no uso da IA, como complemento do trabalho humano. Ou para soluções de problemas triviais, imediatos e efêmeros. Mas qualquer um que tenha interesse em gerar uma obra que continue relevante por décadas, vai ter que suar sangue para conseguir. E esse oceano vai ficar cada vez mais vermelho.

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